Quem já ouviu falar no Pico da Bandeira? Confesso que tenho que apertar bem a memória e vem algo de aula de geografia e picos mais altos do Brasil, mas o que realmente significam e onde eles ficam, nem fazíamos ideia.

O Pico da Bandeira é o terceiro maior do Brasil, com 2.892 metros de altitude, atrás apenas do Pico da Neblina com 2.993 e do Pico 31 de Março com 2.972, que ficam no Amazonas. Na cidade mineira de Alto Caparaó existe o Parque Nacional da Serra do Caparaó, esse parque pertence aos estados de MG e ES, por isso, o acesso aos picos do parque pode ser feito a partir dos dois estados, do ES a cidade chama-se Pedra Menina.

Nós, como seguíamos de minas, fomos para a pequena cidade Alto Caparaó em Minas Gerais. Um dos portais de cidade mais bonitos que vimos até agora, com seus picos e plantações de café ao fundo. Assim que chegamos fomos direto ao parque para mais informações sobre a visita, isso ajuda bastante na programação turística e sempre fazemos, primeiro vem informação, depois diversão. Lá o guarda nos deu as principais orientações e as mais significativas: 7 km de subida ao Pico da Bandeira, dois acampamentos, um antes da subida e outro no meio do caminho. Mas uma informação que ele nos deu nos fez repensar nosso roteiro: no segundo acampamento costuma chegar a 2 graus na madrugada nessa época do ano (Maio). Infelizmente não estávamos preparados para uma noite fria dessas, nossa pequena barraca, colchonetes e cobertor aguentariam no máximo uma noite fria de uns 10 graus. Sendo assim, chegamos à conclusão de que não poderíamos subir ao pico na madrugada, e fomos ao plano B.

Entramos no Parque Nacional da Serra do Caparaó final da tarde, (entrada de R$10,00 por pessoa) subimos de carro uma estradinha de terra 6 km até o estacionamento do Acampamento Tronqueira (R$6,00 a diária por pessoa para acampar). Ali, além de local para acampar, há um mirante com um pôr do sol de tirar o fôlego. Não espere muita estrutura, ficamos até decepcionados, trata-se de um gramado para as barracas e um banheiro, sem luz nenhuma, consequentemente, sem água quente ou morna nos chuveiros. Se tivessem nos avisado sobre isso lá nas informações, possivelmente nem teríamos acampado ali. Mas como já estávamos lá em cima, encaramos o desafio. Se topar a aventura, saiba que lanternas são essenciais.

Após uma noite fria de luar, acordamos as seis e pouco e já nos prepararmos para subir. Dizem que o melhor horário para a subida é de madrugada, para estar lá em cima para o nascer do sol. Nós optamos por ir depois do amanhecer por não termos muita estrutura para aguentar o frio e, também, porque pudemos deixar tudo no carro e subir com uma pequena mochila apenas com a máquina fotográfica, água e algumas coisas para comer.

Quando começamos a subir, só nós dois, sem guia e sem mais ninguém, percebemos que foi muito acertado não termos nos arriscado a subir de noite. Além do frio, a trilha não é tão fácil como nos disseram. Ela é confusa, pouco sinalizada, tem muitas pedras e é bem íngreme, sozinhos poderíamos ter nos perdido. São 3,7 km até o próximo acampamento, chamado Terreirão. Lá há mais uma precária estrutura de camping, gramado e banheiros escuros para os aventureiros, além de um “abrigo” chamado casa de pedra, que pode ser dividido com quantos quiserem entrar ali para se protegerem do frio.

Essa primeira etapa de trilha nós curtimos bastante, estava amanhecendo, o sol nascendo, algumas partes de subida nas pedras, mas no geral mais caminhada em trilhas de terra. Além disso, vista de uma cachoeira, tudo para encher os olhos e animar para a próxima etapa. Ficamos um pouco no Terreirão para descansar e conversar com outros aventureiros que haviam subido durante a noite.

E seguimos para os próximos 3,2 km. MENTIRA, para quem disse que era tranquilo. Quem sabe para escaladores seja fichinha, mas para turistas pobres mortais é DIFÍCIL. No finalzinho então, quase que uma escalada gente. Não queremos assustar ninguém, mas sim preparar para algo realmente difícil. Depois de quase 7 km de subida em trilha íngreme, uma escalada nas pedras até chegar ao topo. Ao chegar finalmente lá em cima é lindo, uma sensação de liberdade, de estar no topo do mundo. Mas se prepare, pois se lá embaixo estava frio, o vento lá em cima é de tremer o queixo.

De lá se avista o pico do Cristal, dá para ver a trilha de quem vem do Espírito Santo. Neste dia estava muito nublado, as nuvens tapavam o pico o tempo todo, e nós lá, parecendo estar num filme, dentro das nuvens. Se vale à pena os 14 km de subida e descida até o Pico da Bandeira? Sim. Algo novo para nós e que realmente nos marcou, e muito.

Mas o Parque Nacional do Alto Caparaó não é feito apenas de picos, nele há trilhas que levam a outros lindos lugares como o Vale Verde, Mirante e Cachoeira Bonita. O primeiro além de cachoeiras e piscinas naturais formadas nas pedras, tem churrasqueiras para um churrasco em família. Subir até o estacionamento do Tronqueira para ver o pôr do sol e a cidade do alto já valem a visita.

A cidade de Alto Caparaó é pequena, mas acolhedora. Possui algumas opções de pousadas, restaurantes, mercadinhos, além da comum pracinha e igreja principal. Pertinho do parque há alguns restaurantes mais elaborados como o All Forno Gourmet e o Estância Gourmet, além do Café Cacau que serve o melhor café da região. Após uma noite no camping e a subida ao pico, que conseguimos fazer em 7h30, ida e volta, precisávamos de um lugar para descansar, e bem, para seguir viagem no dia seguinte e procurando pousadas encontramos a Vale Caparaó. Alexandra nos recebeu muito bem nesta pousada com ótimo custo benefício e que, só fomos perceber no outro dia já claro, possui piscina, área para churrasco com a família e um acesso para a cachoeira Poço Ferrugem, que fica bem atrás da pousada.

Super Dicas:

– Quer uma aventura de verdade? Vá ao Alto Caparaó. Se quiser optar por mais conforto, esqueça o camping do parque. Mas se quer aventura e economia, esse é o lugar. Com uma diária de R$6,00 por pessoa, provavelmente será sua estadia mais em conta. Só não conte com luz e banho quente.

– O nascer do sol no Pico da Bandeira, pelas fotos que vimos e relatos que ouvimos, é realmente incrível. Se for subir na madrugada para poder ver o espetáculo não se esqueça de roupas para aguentar o frio. Nos meses de inverno rigoroso dizem que pode chegar a -13 graus. Há a opção de subir acampar na metade do caminho, no Terreirão e de lá subir na madrugada. Isso facilita, pois serão apenas 3,2 km até o pico e dará tempo para chegar antes do nascer do sol. Mas se nunca subiu, não vá sozinho, procure outros turistas que já foram ou um guia para a subida no escuro.

– Se decidir, como nós, ir durante o dia, não se preocupe a trilha é difícil, mas possível sem outras pessoas ou guia. E aproveite o caminho, as paisagens, e vá também preparado para o frio, mais ameno, mas com muito vento e frio.

– Há algumas opções de pousadas na cidade do Alto Caparaó, se quiser uma dica boa e em conta, Pousada Vale do Caparaó vai atender as expectativas. Simples, mas um ótimo custo benefício. Se for em mais pessoas ou quiser ficar mais dias na cidade, negocie um pacote.

– O Parque Nacional do Caparaó fica cerca de 360 km de Belo Horizonte e 245 km de Vitoria – ES. Acesse o site para mais informações: http://www.icmbio.gov.br/parnacaparao/.

– Acesse todas as nossas aventuras.

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